domingo, 29 de janeiro de 2023

Poemas Imparcialistas

 

Poemas Imparcialistas

José Nunes Pereira


Esse fim que não chega!

E o fim do mundo não chega!!!
esperamos o fim dos tempos
feito quem não sai de casa esperando um temporal.


Tantas vidas chegaram ao fim esperando o mundo acabar.
O mundo está ficando todo troncho,
todo arrebentado
feito um japonês magrinho e muito trabalhador,
que conheci quando era criança, mas não acaba!

agoniza e não morre!
Certamente o mundo chegará ao fim,
uma grande catástrofe virá,
mas não posso ficar sentado esperando!
vou vivendo sem esperar por ela.

Quando vejo uma plantinha que nasce entre pedras
sei que a natureza por si só regenera,
basta que não as arranquemos quando elas
nascerem entre as paredes, entre as pedras, na rachadura do asfalto,
em cima das pontes, dentro das calhas...



E o mundo que não acaba!!!
deixe que o mundo acabe, seja lá como for!
só não gosto de vê-lo agonizando.
não estou parado esperando que ele acabe,
mas a roda da vida está girando,
feito um pneu que um menino solta ladeira abaixo.

O fim dos dias virá,
quem sabe depois de minha passagem por essa terra,
onde vivo feito um forasteiro em qualquer lugar.
Quantas pessoas já morrerem esperando o fim dos tempos!?

José Nunes Pereira



Estou de passagem e não me importo.


Não vou dizer que me importo,
porque realmente, não me importo. É patético ver essa multidão esperando um salvador;
aquele que dirá por onde ir,
aquele que trará o que comer e o que vestir,
aquele que dirá o que pensar e sentir,
aquele que fará tudo para o bem estar de seus seguidores.
Já foi falado que não há um salvador.
Essa gente quer um salvador que facilite suas vidas.
quer vê-lo sacrificando sua própria carne em favor dos seus adoradores.
O salvador e seus auxiliares falam a mesma língua
e dizem que sacrificam por todos...


Estou sempre de passagem, sou forasteiro,
não me importo com a crença das pessoas,
não me importo com as promessas do salvador delas,
estou de passagem e não me importo.
Sou um transeunte,
porém não posso deixar de notar que as pessoas esperar um salvador.
Gostaria de iludir me e fazer parte de alguma coisa,
gostaria beber disso, escapar e iludir me feito um bêbado.


José Nunes Pereira




Quem vai para a outra margem desse rio...


Quem vai para a outra margem desse rio,
não vai para a outra margem do rio,
esse se expande feito o universo
que se expande a medida que avanço no espaço,
quanto ao tempo,
fica a ilusão de que existe
dentro do processo de existir sobre muitas formas e estados.

A consciência transpassa a margem do rio da morte,
e sei que não existe margem para o rio da morte,
o rio da morte e o rio vida se trançam e são a mesma coisa,
de certo modo de olhar,
como uma rua após a outra,
um rio após o outro,
um desaguar no universo
e ser a perpétua existência em estados e formas distintas.

A eternidade é o perpétuo desaguar no oceano cósmico,
ser deixado na praia,
ser levado pelo mar.

A consciência paira sobre tudo,
feito voz sem corpo, é o som consciente de Ser.

J.Nunes


Dispersão

A sociedade materialista
foi além do materialismo

e da negação do mundo espiritual,
transformando a espiritualidade em "manifestação cultural".

A espiritualidade faz dualidade com o materialismo,
logo, a espiritualidade e o materialismo existem.

O que é negado é confirmado
pela própria possibilidade de negar e afirmar.

Esta negação da dimensão espiritual do homem,
essa dispersão na diversidade e na multiplicação de si mesmo
na tentativa incoerente e insana de se encontrar;
essa tentativa de se encontrar na multiplicidade psicológica é igual
a quem caminha em direção oposta de onde quer chegar
e ainda tem esperança de chegar.

José Nunes Pereira

 



POSSIBILISMO

As lições que meu pai deixou
são feitas de ações que ele não realizou,
caminhei na contramão do que ele fez,
e falo ao contrário do que ele falou.

O mundo não vai parar
enquanto você lamenta.

Aprendi a caminhar por onde havia caminho,
e abrir passagem onde não havia passagem,
aprendi a comer o que tinha para comer,
e andar por onde dava para andar,
porém nunca deixei de ser otimista,
sempre acreditei que posso derrubar muralhas
feito as trombetas de Jericó.

O fato de meu caminho ser mais difícil,
o fato de tentarem me impedir o caminho
não me faz melhor nem pior que ninguém,
isso apenas mostra que eles tem medo,
porque eu não me sinto subjugado.

O porque de eu ter essa dificuldades na vida
é questão reencarnacionista,
e as compreendo ao meu modo espiritualista.


J.Nunes



Vaporoso

Ser qualquer coisa é sempre um desperdício.
Não quero ser muito intensamente,
prefiro ser um personagem,
ser por um instante...
um breve instante de ser.

É tanta gente chata impondo ser isso,
aquilo e tudo isso,
e eu não quero ser nada,
ser é cansativo.

O que eu sei é que tem que haver consistência em ser,
tem que existir unidade de ser,
ser disperso é vaporoso e impermanente,
porém afirmar ser qualquer coisa é tão utópico quando afirmar ser tudo...
melhor é não tentar ser qualquer coisa,
melhor é não autoafirmar em nada.
De todo modo se é tudo e não se é nada.


Tanto faz, evaporo feito a fumaça do cigarro,
mais vale ficar a observar que sou tão dissipável
quanto a fumaça do cigarro.

Esse que vê que sou vaporoso e inconsistente
é o que tenho de mais próximo da unidade e da concretude de ser.

J.Nunes

http://www.literaturaimparcialista.com/




Lamentações

A alegria de viver o momento,
a consciência de existir a cada instante
é a única autoafirmação que, definitivamente, compensa.

A lamentação é tão patética,
o passado está em nossa memória e em nosso sentimentalismo;
está apenas lá, não tem qualquer consistência no mundo,
o futuro é outra forma de lamentação incongruente,
lamentamos a vida como quem senta na areia
e lamenta a morte da onda que se desfaz na praia.

Somos nos que paramos para lamentar nossas memórias,
o ciclo infindável da vida e da natureza continua
e não se importa com nossas lamentações,
a natureza se alimenta de si mesma, e chamamos essa autoalimentação
de vida e morte.

Quanto mais lamentamos,
mais perdemos nossa consistência de existir dentro das memórias lamuriosas,
mais ficamos presos a essa roda da vida e da morte
que é vida que se autoalimenta.

Vale mais estar aqui ao pé no mar,
afirmar esse alegria de estar ao pé das águas
e ser eu mesmo, como toda potência de ser agora.

J.Nunes

http://www.literaturaimparcialista.com/


As Classes dos Incultos

O governo dividiu o seu país em classes e subclasses,
Os mais ricos estavam na classe A,
Os menos ricos estavam na classe B
Os pobres estavam na classe C,
os mais pobres estavam na classe D,
os miseráveis estavam na classe E;
porém as classes ainda estavam divididas em subclasses,
A+ rico e culto, A- rico e sem cultura,
B+ menos rico e culto, B- menos rico e sem cultura,
C+ pobre e culto, C- pobre e sem cultura,
E+ miseráveis cultos, E- miseráveis e sem cultura.

Os critérios do Governo para considerar um indivíduo culto
era a sua aceitação ao sistema de Governo e sua política;
por esses critérios eram distribuídas as oportunidades e as riquezas.
Muitos indivíduos eram realmente "equivocados sinceros"
muitos outros eram demagogos, hipócritas e oportunistas;

Aqueles tidos como incultos pelo governo
eram sinceros a suas convicções
e não se vendiam em troca de benefícios e oportunidades;
esses conseguiam se manter nas classes e até mesmo subir
na classe dos incultos com muito sacrifício e astúcia,
porém jamais fariam parte da elite culta do país.

O Governo do país não ignorava que entre as classes não havia equilíbrio
e que não era possível o relativismo
e o nivelamento nem mesmo dentro das classes;
haviam conflitos, aflições, invejas, sofrimentos, dúvidas, doenças, indiferenças, disputas...
dentro de todas as classes e nas subclasses das classes,
Os indivíduos não atendiam rigorosamente aos parâmetros de cidadão perfeito,                            
segundo os padrões do governo.

Para resolver as questões o governo adotou um critério muito objetivo:
Aceitar, não questionar e militar a favor do governo.
Os equivocados sinceros são os melhores cidadãos;
porém não participam do jogo,
simplesmente porque não compreendem o jogo.

Quando o Governo percebeu, na prática, que era impossível
unificar os indivíduos e ao mesmo tempo
representar a todas e atender a todas as diferenças dentro dos grupos,
o Governo criou o critério da Manutenção do Poder
pela aceitação do indivíduo ao Governo.

O individuo passava a ter a sua individualidade respeitada
a partir do momento que aceitava defender o Poder vigente.
Era uma espécie de conversão que garantia o perdão, a liberdade e a oportunidade.

O Governo do país pensou que havia encontrado uma ideologia perfeita para sua nação,
no entanto, dentro das classes cultas começou surgir a cobiça,
a inveja, o medo, a ganância, a intriga...e, naturalmente, ocorreu separações
dessas classes cultas em cultos radicais, cultos moderados
e cultos equivocados que não sabiam que tudo é um jogo de retóricas.

O que está ocorrendo naquele país é que os tidos como incultos
estão aproveitando os excessos ideológicos dos "equivocados sinceros"
e estão criando uma forma de Poder que se pauta no mérito do trabalho,
no respeito à individualidade, na sanidade e na coerência,
sem precisar da conversão à ideologia imposta pelo governo.

J.Nunes

http://www.literaturaimparcialista.com/2022/01/as-classes-dos-incultos.html


Afirmação

Não sou o que a mente pensa,
nem mesmo o que o pensamento afirma.

O pensamento afirma qualquer coisa a qualquer momento;
afirma em um pensamento e dessa firma em outro.

Sou o que é a consciência no silêncio da mente
e na comunhão com o coração.

Ser não está na mente e nem em qualquer afirmação
que eu ou outros façam a meu respeito.

Ser está na ausência de pensamento e afirmações de ser.

No momento que esquecemos o que afirmamos com a mente,
deixamos de ser este que com tanto custo afirmamos,
e por um instante e somos o a ilusão e devaneio do pensamento,
no entanto até mesmo a nossa afirmação mais concreta de ser
é uma ilusão de ser, porém consolidada,
por isso sempre retornamos a ela.

José Nunes Pereira


POETAS BRASILEIROS 

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